Como sabem o choque da riqueza com a pobreza em Luanda é algo de estrondoso! Ora se vê um Hummer ou outro jipe qualquer topo de gama impressionante ora se vê os pedintes de rua que como eles dizem em troca de uma gasosa (dinheiro) controlam o carro (protegem que alguém vandalize o mesmo)!
Ontem aconteceu-me uma cena caricata, impressionante que me deixou a pensar ainda hoje nas horas vagas dava comigo a pensar como as aparências enganam…
Ontem a noite eu e minha colega descemos para jantar num restaurante aqui ao lado do nosso prédio estávamos sentadas numa mesa ao pé da janela e por acaso estava incomodada com o sítio onde estávamos sentadas porque prefiro ficar num sítio mais para o fundo onde um estore de bambu tampa a vista para a rua! Perturba-me estar a comer e ver pedintes com mau aspecto a olhar para nós! Reparamos num deles que andava sempre de um lado para o outro e sempre olhar tinha muito mau aspecto todo sujo e roto cara inchada possivelmente das quantidades excessivas de álcool que ingere! Ficamos ligeiramente assustadas e para prevenir que a saída do restaurante aquele indivíduo nos interceptasse decidimos esperar que ele saísse da frente do restaurante! Lá terminamos a nossa refeição e tomamos relaxadamente o nosso café conversando das nossas vidas!
Quando olhamos para fora não vimos individuo e lá fomos para casa, quando chegamos ao 2 piso (onde moramos) encontramos o dito cujo individuo no corredor de apartamentos onde moramos! Fiquei pálida assustada inicialmente não sabia bem se ele estava só ou com mais alguém, apenas o vi a ele e ouvi mais vozes…minha colega começou a descer a escadas a procura do segurança eu ainda chamei calma espera, mas nada! O Paulo como bom militar que foi, ensinou-me a manter sempre a calma nunca acelerar passo não correr nem nunca me descontrolar nessas horas, por isso, fiquei quieta respirei fundo e esperei que individuo me falasse. Nesse entretanto apercebi-me que estava sozinho e que tinha ido bater a porta da minha vizinha, a medida que se dirigiu para o hall do piso eu indaguei que faz aqui? Ele respondeu madrinha vim buscar algo aqui a vizinha!!! Sempre me ensinaram que com estas pessoas devem-se sempre tratar por filho (no caso de ser jovem) ou por pai (no caso de ser mais velho), bem como eles costumam tratar por mana tia madrinha ou mãe (no caso que fosse mais velha). Logo entrei no esquema dele disse “filho que andas a fazer?” ele lá me reconheceu como moradora do prédio inclusivamente sabia que no dia anterior tinha conduzido um jipe cor de vinho etc etc começamos a falar lá me pediu uma gasosa (dinheiro) eu disse-lhe “a madrinha vai-te ajudar mas não para ires encher mais essa cara de álcool vai na pastelaria e compra algo para comeres”.Lá conversamos uns breves momentos onde lhe dei bons conselhos, também lhe disse que não poderia dar todos os dias mas quando visse no estacionamento o ajudaria, ele sempre me tratando por madrinha com muito respeito e admiração. Olhou-me com admiração e por uma nota jurou-me amizade prontificou-se para sempre que quiser controlar meu carro e lavar. Engraçado adorei falar com aquele mendigo de repente vi que aquela cara assustadora era mera fachada que por baixo daquele mau aspecto estava um pobre coitado vítima da guerra que nunca teve hipótese na vida e que o álcool era seu único refúgio e única forma de continuar a viver! E que, nem todas as pessoas que vivem na rua, se dedicam ao roubo ou são mas pessoas! O que muitas vezes acontece é que ao reagirmos de forma de brusca e agressiva provocamos o mesmo.
Meu afilhado desce escadas, cruza-se com minha colega que entretanto subia escadas com segurança, para me auxiliarem meu afilhado ainda lhe diz “ vai a madrinha esta te chamando para ires para casa” Claro minha colega só compreendeu quando entramos em casa e lhe contei nossa conversa. Moral minha colega Angolana mulata fugiu e a pula (euzinha) fiquei conversa com afilhado!
Antes de ir para casa e por uma questão de precaução fui bater na porta da vizinha para saber se realmente ele me tinha dito verdade. A vizinha disse que pediu para lavar carro e que ele estava controlar que vizinha chegasse a casa e como não encontrava foi bater a porta dela para cobrar.
Foi um momento único que para sempre me vai marcar fiquei sem saber o nome do meu afilhado, mas hoje pensei muito nele!
Angola de facto muda pessoas e até com estas pequenas coisas noto que cresço como mulher e sei que um dia que regresse a Portugal serei muito mais mulher muito mais forte muito mais eu!!!
